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Eddy utiliza seu precioso tempo em ações de amor e dedicação ao próximo. Uma delas é cobrir as marcas de mastectomia gratuitamente. Ele é o único no estado licenciado pelo Instituto do Câncer.
Por Janaina Ramos
Como tudo começou
O início da ação
Outras ações realizadas

Foi difícil achar o personagem e, quando achei, esperava que minha matéria fosse carregada de emoção e lágrimas. O que não aconteceu. O personagem veio cheio de razão, eficiência e ousadia. Com ele, aprendi que o amor ao próximo não precisa ser melancólico, que não existe desafios se você encara a vida com disciplina e firmeza, com a pretensão de dar certo.

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De personalidade forte, vivendo um dia de cada vê, Eddy Oliveira Silva,32, é casado e pai de Pietra, de um ano e nove meses. Ele escolheu Fortaleza como seu lar. Aqui faz tatuagens há 14 anos, arte que herdou de seu pai, que era artista plástico. Apesar de seu corpo musculoso e forte, o educador físico gosta de praia, pés na areia e uma boa cerveja, enfim, paz. Diz que sua vida foi conquistada com determinação e muito esforço, sem muito “mimimi”.

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Em nossa conversa, a alegria em seus olhos era tamanha, que transbordava o ambiente; em cada palavra havia firmeza com uma pitada de satisfação e ternura, sim... Ternura! “Essa semana o Eddy está muito feliz, principalmente hoje, conversando com vocês. Mesmo sendo uma entrevista para faculdade, poder expor tudo que ele faz é muito irado” diz Brasil, um tatuador que trabalha em seu ateliê há dois anos.

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“Não existe problemas e quando eles vêm, é só tomar um café que passa”, revela. O tempo é curto para tudo que se propõem, seus dias são divididos entre sua casa em Jericoacoara e em Fortaleza, mais precisamente no bairro Montese, onde fica seu ateliê. Trabalha com mais dois tatuadores, que considera outra parte de sua família, pois passa mais tempo com eles do que em sua casa. Infelizmente vai se aposentar (financeiramente) da profissão dia este ano. Quer dar mais atenção a filha, aos seus seis projetos filantrópicos e ao seu novo projeto e chodó, as artes plásticas.

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A filantropia sempre fez parte da sua vida, “é minha obrigação fazer algo por quem precisa. Eu tenho, posso ajudar, então ajudo! ”. Quando indagado sobre o motivo das ações, diz que faz porque sim, simplesmente. “Eu acordo querendo fazer o bem, vou lá e faço. Não é preciso ficar divulgando que está fazendo, é só ir lá e fazer... ”, revela, sorrindo. Comenta que o ser humano sempre tem aquela tendência de fazer ação beneficente pagando ou trocando por algo, que esse tipo de atitude não é ajuda, é o básico e normal de sua tatuaria.

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Conheceu o trabalho em mulheres com mastectomia numa viagem a São Paulo e se interessou, viu que em Fortaleza havia muitos projetos em relação a mulheres, mas nada que seja ou fosse beneficente, sem custo. “ Depois da viagem, num dia qualquer, acordei de manhã com vontade de ajudar e aí montei o projeto”.

Quem somos

Sou jornalista em formação e fotógrafa por amor. Já fui contabilista, mas não completei a formação. Janaina ou Jana, sinta-se à vontade. Sonho alto, muito alto. Nascida em Fortaleza, a terra da luz, me sinto uma pessoa do mundo, sem amarras para viver em qualquer lugar e com uma facilidade inerente para me adaptar a diversas situações. Complexa e misteriosa, com pitadas de romantismo, gosto de ser eu mesma e ter a originalidade em todos os momentos.

Com vinte e poucos anos e amigos de todas as idades, não acho que um número me defina. Viciada em viagem e leitura, minha vida é um livro que escrevo todos os dias, reinvento-me sempre que ela pede um pouco mais de mim. Posso ser constante, inconstante, ou até mesmo os dois ao mesmo tempo. Em grande parte do tempo, sou previsível, admito. Mas o imprevisível me acompanha bem de perto. Talvez eu seja isso; uma porção de coisas, depende de como você me vê!

Por ser 99% razão e 1% coração, o tatuador não se deixa envolver pelas histórias das mulheres mastectomisadas, diz que são todas iguais, o sofrimento é parecido, é o marido, a auto-estima, estética pessoal, relação com o espelho, enfim. As 95 mulheres que receberam seus desenhos em um ano de projeto têm um pós-procedimento para contar. “Até hoje recebo uma cestinha com quitutes regionais como castanha, frutas cítricas e rapadura de uma das meninas (como ele as trata).

 

Essa menina que ele se refere tem 65 anos com alma de 30, mora no interior e, até hoje ela manda cartas de agradecimento. Uma delas diz que vive muito bem, que até sua relação com o marido apimentou. Eddy tem em média de seis projetos em andamento, os seus mais famosos são a tatuagem em mulheres com mastectomia, a arrecadação de leite para o Iprede e a arrecadação de ração para ONGs de caráter rústico, pessoas que disponibilizam de seu pouco espaço em casa para cuidar de animais abandonados.

 

O brilho do seu rosto diminui quando fala sobre alguns casos em que as doações que recebia não continha o elemento não perecível solicitado, a incredulidade em ver o que o ser humano é capaz de fazer e o pior, a quem já está vivendo sem esperança e perspectiva de vida. Seu relato dói, mas sua alma nobre não permite levar o assunto à diante " pra não valorizar algo errado em favor de nós". É complicado reproduzir fatos onde a individualidade e mesquinhez são utilizadas como ferramentas para não realizar o certo, como se a corrupção fosse o melhor caminho.

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Da entrevista para a vida. Saímos do local (arrastei o marido para ser câmera man) com uma nova definição do que é ajudar ao próximo. Que na vida nada é mais importante do que viver.... Viver um dia de cada vez, não viver o amanhã, viver o hoje. Até fiquei com vontade de fazer uma tattoo... E cadê a coragem?

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